sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Habeas Corpus

Derivado etimologiacamente do latim, e propagado na Constituição como um direito fundamental do arguido, significa, na sua tradução literal "que tenhas o teu corpo", consistindo, basicamente, no direito do arguido ser colocado perante o juiz em situação de prisão ilegal.
Não obstante o seu significado para o direito processual penal, o habeas corpus que eu preciso não me é atribuído por nenhum magistrado.
Na verdade, nem sequer podemos falar de um direito que me assiste, pois, não se trata do meu corpo.
Esse, já o tenho. Está cansado, dorido, em baixo de forma e parece que já não tem aquela resistência de outros tempos para fazer noitadas, excessos e sempre sem queixar (muito).
Mas, mesmo talvez não com essa capacidade, não é esse corpo que eu quero ter, pois já o tenho.
Este corpo stressado, confuso e, muitas vezes, sem grande capacidade de compreensão, já está comigo há tempo suficiente para o conhecer.
Já lhe conheço o cheiro, as vontades, as birras e os desaforos.
Não. Eu quero e esse corpo que me aquece nas noites frias, e que me traz a tranquilidade de não existir absolutamente mais nada fora daquelas quatro paredes.
É esse corpo que eu quero ver apresentado perante mim. É esse o corpo que eu quero cheirar, não porque já me esqueci do cheiro, mas antes porque o seu cheiro não tem forma de me abandonar.
Acho que aquilo que estou a sentir é saudade. È falta. É o desejo de ter esse corpo só para mim, para que possa ficar colado ao meu.
É esse corpo que eu sinto falta de agarrar, de abraçar, de proteger desses monstros que vivem debaixo da cama.
Estou a falar de desejo? Luxuria?
Não! Estou mesmo a falar de carinho, de afecto. Estou a falar do sorriso que nos ilumina o dia, e das palavras doces que nos protegem de um futuro incerto.
Estou a falar das mãos que, junto às minhas, me dizem que vai correr tudo bem, que não há motivos para preocupações.
Estou a falar daqueles pés que se enrolam nos meus, alegadamente, para ficarem quentes, mas que me transmitem a mensagem que não vou a lado nenhum.
Não porque não sou livre de o fazer, porque sou, mas porque não há motivo algum no mundo que me faça abandoná-los.
Sinto falta, mais do que desse corpo, pois, na verdade, não é de um corpo que falo, mas de, esse afecto.
Sinto a falta desse afecto, não porque se tornou restrito a mim, mas porque me vejo num ponto em que não me é possível gozar do carinho que esse corpo me dá.
Tudo por circunstâncias externas a mim, à minha vontade mas, sobretudo, à sua vontade.
Também esse corpo se vê privado daquilo a que tem direito, daquilo que merece e daquilo que, por legitimo direito, deveria estar a usufruir, mas que, por causa de uma fatalidade da vida e do destino, se vë enclausurado numa solidão imposta por uma obrigação que nada lhe diz.
Esse corpo, sim, é a vitima de uma escolha que eu ainda não estou certo se fiz, ou deixei que fizessem por mim, mas, mais do que eu, é esse corpo que está a pagar.
"Habeas Corpus", para que o teu direito natural à felicidade não seja violado pelos juízes do destino!

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