domingo, 28 de novembro de 2010

O Animal Social

Há alguns anos atrás, o sucesso, ou melhor, o segredo para o sucesso era algo bastante diferente do que será nos dias de hoje.

Especialmente, se olharmos para pessoas com profissões ditas liberais como, por exemplo, os advogados, os consultores, os revisores oficiais de contas, as prostitutas, os escritores e os vendedores de automóveis, facilmente nos apercebemos que todos alcançavam o sucesso pelos seus próprios meios (recorrendo à sua arte de venda, às suas capacidades de aproveitamento de oportunidades e às suas alucinações decorrentes do consumo de substancias psicotrópicas).

Mas, independentemente do seu ofício e do meio usado para chegar ao topo, acabavam sempre por alcançar o sucesso por si mesmos.

Eram realizações individuais, eram os reis e senhores do seu ofício e apenas a eles se devia o sucesso.

Contudo, com o avançar dos tempos, e da civilização (espero) o conceito de sucesso individual acabou por se ir dissolvendo. Certamente, fruto do progresso e das necessidades da sociedade, deixou de se ter neste conceito de êxito individual uma visão romântica que coadunasse com a sociedade de hoje.

Fruto das exigências de mercado, um homem sozinho pouco ou nada va, nos dias de hoje, pois já não tem as capacidades de atender às novas e variadas necessidades do mundo moderno.

Que o digam os advogados, consultores e contabilistas que continuam a funcionar em prática individual que, para além de mal sobreviverem com as contas e as despesas de arcar com um escritório sozinhos, ainda lutam com a falta de especialização em determinadas novas áreas pelo que, na sua prática generalista simples, acabam por ficar em clara desvantagem quando comparados com alguns concorrentes so-called mais evoluídos.

De facto, nos dias de hoje, o Homem seguiu outro caminho que não o de trabalhar sozinho, mas, ao invés, especializar-se naquilo em que é, ou pensa que é, bom, reunindo-se com outros que são bons, ou pensam que são, noutra coisa.

Depois, como se isso não bastasse, juntou-se também a outros que são bons na mesma coisa que ele.

É uma prática bastante inteligente, na verdade. De facto, se primeiramente se juntou com os bons noutras coisas para, juntos, conseguirem ser bons em tudo, depois, juntou mais bons naquilo em que é bom para não ter de fazer o trabalho em que é bom todo sozinho!

E, assim, para além, e mais importante que ter surgido o conceito de “sociedade”, surgiu o conceito de “equipa”.

O Homem de hoje, bem ou mal, acaba por ser um teamplayer. Até pode não gostar de trabalhar em equipa, mas, para ganhar aquela vantagem competitiva, na verdade, não tem outra hipótese.

Mas, nada disso acaba por ser (muito) mau.

O trabalho em equipa, para além de nos permitir a especialização naquilo que somos bons, também acaba por nos poupar trabalho e, acima de tudo, abre-nos oportunidades de chegar a sítios onde, muito provavelmente, não chegaríamos sozinhos.

E, mais, o Homem moderno acaba por trabalhar sempre em equipa. É mais forte do que ele. Afinal de contas, somos animais sociais.

domingo, 14 de novembro de 2010

Saudade!

Diz a sabedoria popular, e por “sabedoria popular” entenda-se o “grupo de pessoas que gosta de mandar umas larachas, mas, como não estão bem dentro da coisa, a opinião deles tende a parecer extremamente estúpida, ignóbil e sem qualquer tipo de senso” que “as separações fazem bem às relações”!!!

Ao que parece, e segundo esses “sábios de café”, faz muito bem a um casal separar-se por uns tempos, de forma a fortalecer a relação.

Ao que parece, o período em que o casal não se encontra junto funciona como uma espécie de férias que um tem do outro e, assim, quando se voltaram a juntar, encontrar-se-ão revigorados e, portanto, a relação sairá fortalecida.

Ora bem, em relação a este tema, sobre o qual poderia dizer muito e, ao fim e ao cabo, acabaria por estar a dizer nada, só me apetece mesmo dizer algo do género “WTF are you talking about?”

Ora, se, por um lado, a ideia de ficarmos sozinhos por um certo período de tempo, sabendo que, após esse período, o casal estará junto de novo, pode aparentemente trazer uma expectativa de “férias”, na verdade, isso é a treta mais pegada que alguém já foi inventar.

Afinal de contas, não nos podemos esquecer que o ser humano, pelo menos o normal, é uma criatura de hábitos, de tradições e de rituais que gosta de seguir relativamente à risca.

Assim, expliquem-me lá porque raio é que a separação funciona como uma coisa boa.

Agora, mais do que nunca, não deixo de me lembrar dos meus avós, e quem diz os “meus avós” diz “os avós de toda a gente”.

Os meus avós viveram juntos durante, vá, a sua vida adulta toda. Com excepção das horas, e dos locais de trabalho (e mesmo assim, nem sempre), andavam sempre juntos.

Iam os dois para a vila, às compras. Iam os dois à missa, iam os dois a casa dos meus pais, assim como iam os dois passear.

Quem os conheceu, até pode dizer que, nos seus últimos anos, até estavam bastante insuportáveis um com o outro. Discutiam as suas coisas, diziam os seus insultos e faziam as suas gritarias. Contudo, continuavam juntos, e lá iam a todo o lado um com o outro, e ai daquele que quisesse ir a algum lado sem levar o outro.

Contudo, e porque na vida, tudo acaba por ter um fim, o meu avô acabou por ficar sozinho!

Nesta situação, se calhar, viria a “sabedoria popular” dizer que, “vá, eles até discutiam e tal. É melhor assim que, pelo menos, tem sossego”!

Bem, o avô ainda não conseguiu ter sossego, e isso nota-se perfeitamente.

Afinal de contas, a sua menina foi-se e já não volta, e não podemos dizer que esta “separação forçada” lhe tenha trazido descanso, ou sequer, a possibilidade de fazer outras coisas.

Claro que, nesta situação, pode vir a “sabedoria popular” dizer que “ah e tal, mas isso é uma separação permanente e não conta. Uma separação quando não é permanente faz muito bem”.

Pois bem, não faz!

Até se pode admitir que, a vida a dois é composta, também, por concessões que se vão fazendo a favor da relação. Numa relação, o homem concede em deixar o tampo da sanita em baixo, e, se ainda consome, aprende a deixar as Playboy’s e as Penthouse’s em sítio que não necessariamente a mesinha da sala.

A mulher, por sua vez, também concede que, se calhar, a televisão deixa de lhe pertencer, e bem, se calhar, vai deixar de ter tempo para poder arranjar e pintar as unhas.

Se calhar, são essas as particularidades da relação em que as pessoas, de vez em quando, gostariam de passar um dia sozinhas.

Contudo, mesmo assim, não tem a “sabedoria popular” razão alguma no que diz.

Afinal de contas, tudo bem que pode saber bem que, durante um dia, o homem possa deixar as revistas espalhadas pela sala, e, seguramente, que lhe saberá bem usar o WC e deixar o tampo para cima. Afinal de contas, ele há-de lá voltar.

Mas, será que isso faz bem à relação? Não! Afinal de contas, essas coisas podem saber bem durante um dia. Durante um dia, homem e mulher são os soberanos absolutos das suas vidas, e fazem o que querem.

Bem, mas, e depois desse dia. Será que é assim? Bem, será que continua a ter a sua piada na hora de dormir, e ter os pés frios. Então e ver uma coisa com piada na TV e ninguém estar lá para se rir com ele.

E ir ao cinema, e comprar apenas um bilhete para um? E as saudades? E o facto de não aguentar estar sem a cara-metade, mas ter de se aguentar à bronca?

É isto que faz bem, ou é só a “sabedoria” de quem, na verdade, não tem qualquer tipo de experiência na matéria?

É mais o que parece. Afinal de contas, o Homem, mais do que ser um animal social, é, e perdoem-me a ousadia, um animal monogâmico, e foi criado no sentido de existir aos pares.

Assim, o Homem que foi criado para viver aos pares, quando na ausência da sua cara-metade, acaba por não lhe fazer a experiência bem. Sente a falta da sua parceira, sente o peso de ser um à espera de voltar a ser dois, sente que essa liberdade que lhe podem ter apregoada mais não passa que gentis palavras de alguém que apenas não o quer ouvir queixar-se.

O Homem é um para ser dois, e é assim que é feliz. É assim que se define, e é assim que vive.

Daí que se tenha inventado a palavra “Saudade”!

domingo, 7 de novembro de 2010

Experiências

Há certas e determinadas experiências sociológicas que nunca devemos deixar de experimentar.

Não que alguma vez possamos entender certos contextos. Afinal de contas, não precisamos de conhecer/saber tudo, mas devemos, pelo menos, tentar perceber, nem que seja apenas para criticar.

Afinal de contas, nós podemos nem sequer compreender como é que um monte de cadeiras velhas presas umas às outras por cordas podem significar algo como “ a ordem no universo”, ou uma caixa de cartão amarrotada pode transmitir o vazio arquitectónico presente nas salas de jantar pós-modernas em Brasília, mas, se não vemos, não podemos criticar.

Às vezes, estas experiências, para além de serem uma óptima desculpa para usar óculos de massa e camisolas de gola alta pretas, podem, e devem, ser o inicio de uma experiência sociológica muito mais vasta.

Afinal de contas, toda a gente sabe que olhar para uma caixa de sapatos que, por ser uma caixa de sapatos, vale uma pipa de massa, abre sempre o apetite para mais. Tipo, para jantar.

Assim, usa-se essa experiência para procurar um restaurante, uma casa de repasto, uma taberna, um sítio onde se possa encher o bucho.

Ah, sim, encher o bucho. Isso, sim, pode tornar-se uma experiência que podemos nunca vir a esquecer.

O truque é simples: basta escolher um sítio com aspecto de ser um restaurante típico, daqueles que guardam nas suas paredes, as mazelas e os sinais dos milhares que lá passaram ao longo das várias décadas de funcionamento.

Se o dono do restaurante for um simpático senhor bem vermelhinho, e com um leve hálito de aguardardente, tanto melhor. É sinal que vão ter histórias durante a noite toda, e, sobretudo, vão ter uma pequena aventura para contar aos amigos, filhos e netos ao longo dos anos. Ou, então, vamos manter isto só para nós!

Ora, de forma a melhorar a experiência, não há nada que anunciar ao senhor bem bebido a nossa profissão. Se for algo que poucos gostam, tanto melhor (em regra, dizer que se é advogado does the trick), pois havemos de ter mais umas histórias, aventuras, relatos de prisões por roubar bananas que nos irão entreter ao longo da noite.

Com um bocadinho de sorte, ainda se é convidado para sair da mesa e se sentar ao sofá com ele, enquanto nos diz que é casado há 65 anos e, já agora, “vocês fazem sexo?”.

Com este tratamento, certamente ainda se ganha uma rosa, ou duas, ao final do jantar.

Depois, é hora de ir beber um copo e ouvir boa música!
Não se deve criticar o que não se conhece, mas deve conhecer-se o máximo para que sejam abertas outras portas.