quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ah, os transportes públicos!


Como gosto deles!


Acordar, correr, entrar num metro que só não vai mais apinhado porque, vá, sejamos sinceros, já não cabe mais ninguém.


E é, nestas viagens, que aprendemos a conhecer o mundo!


Está bem, não conhecemos o mundo inteiro, mas, mesmo sem querer, conhecemos o mundo da D. Alzira, que tem um cunhado que é um traste e "se antigamente, ainda trazia para casa um saquinho de batatas, agora, só vai a casa para ir buscar dinheiro à carteira da mulher para estoirar em copos e cigarros"!


Sim, é um mundo pequenino este que acabamos por conhecer, mas, sobretudo para aqueles que se elevam no alto dos seus cursos superiores, ainda nos mostra que não é no estudo e no trabalho intelectual que realmente se capta o "bom rendimento".


Que o diga o marido da senhora Maria. Afinal de contas, apesar de estar desempregado, porque assim acordou com o patrão, mas continua a trabalhar para ele (afinal de contas, sempre se acumula o ordenado recebido a "negro" com o subsídio de desemprego. "Afinal de contas, o subsídio de desemprego é um direito para todos"!), e ainda vai fazendo uns biscates.


Segundo a senhora Maria, "toda a gente sabe que funciona assim e, só quem é estúpido, é que não faz uns biscates não declarados enquanto recebe o subsídio e o ordenado".


Muita coisa se aprende no metro, meus amigos, e são coisas úteis, ensinamentos para a vida, coisas que nunca iríamos aprender na escola!


Mas, os transportes públicos são muito mais que ensinamentos para o mercado de trabalho.


Na verdade, são um encontro de culturas, de informações, de vivências, assim como um óptimo sucedâneo das páginas amarelas.


Homem sozinho, não precisa de ter muito esforço para arranjar companhia.


Na verdade, basta-lhe andar uns quinze minutos de metro que, certamente, ouvirá o António e o Joaquim a comentarem as capacidades de ginástica artística da Teresinha que, “além de ser um pedacinho de céu, nunca deixa um homem nas mãos”…


Mas não só disto são feitas as lições nos transportes públicos.
De linha para linha, de carreira para carreira, vai-se mudando a conversa, e vão-se mudando as lições.
Umas boas, outras muito boas, mas, o cidadão com bons ouvidos só tem de seguir as receitas com afinco, e não terá mais problemas na vida.
Afinal de contas, aluno aplicado, concerteza conseguirá sacar uns cobres do patrão e da Segurança Social para poder investir na bolsa, também com os conselhos do senhor Jaime, barbeiro, e pode ser que até ganhe uns cobres jeitosos, que não serão declarados, como bem professa o senhor Aníbal, e compre um carrito para dar umas voltas com a Teresinha.
Poderíamos aprender isto na Faculdade, meus caros? Não. Afinal de contas, estes são os ensinamentos da escola da vida, os ensinamentos que nenhum ensino particular alguma vez nos pode prestar.
São os ensinamentos do bom Chico-Esperto e, concerteza, serão os ensinamentos que nos levarão mais longe.

Boa noite, e boa viagem!

1 comentário:

Anónimo disse...

Riding the bus?

O importante é a viagem, não o veículo. :)