quinta-feira, 7 de outubro de 2010

need for speed!

Ah, como eu gosto da chuva, a cair, quando estamos no quentinho da cama, e não temos preocupações para além de dormir mais um pouco.


Contudo, muda de figura quando a chuva se torna a nossa companheira, a caminho do trabalho.


Ah, sim. Aí, a chuva faz-nos sentir vivos, se bem que possa não ser muito tempo.


Afinal de contas, o homem, e a mulher, assim como o idoso e o condutor de transportes públicos, todos gostam de viver a vida naquele linha divisória, e sentir o perigo perto para, depois, soltar um "Simmmm!!! CONSEGUI!!! SOU O(A) MELHOR CONDUTOR DO MUNDO!!!!".

É claro que, uma vez que somos portugueses, e, por definição, pelintras, não temos tantas possibilidades de viver perigosamente como fazem, vá, aqueles gajos das Arábias.

Sim, eles divertem-se. Eles fecham auto-estradas para fazer drag races com os seus SLR's, Lambos, Enzos e companhia.

Eles têm Defenders preparados para subir dunas a 160 km/h e, depois, fazer piruetas ao cair.

Ah, sim, eles divertem-se e vivem perto do perigo! Sacanas.


Ora, nós, portugueses, pelintras que somos, não temos acesso a esses meios fantásticos para roçar a loucura.


Em vez disso, temos os nossos Clios com 15 anos, os quais consideramos como "The Ultimate Driving Machine", mas só se for o 1.2, porque o 1.0 já não era tão Sporty! E os nossos 206, artilhados com todos os neóns e escapes que o ordenado mínimo pode comprar.


Aqueles mais abonados, sempre se podem dar ao luxo de fazer pirraça aos outros, e passearem-se no interior dos seus Saxo Cup, lá do alto dos seus motores 1.6 (se bem que o rendimento mínimo de reinserção já se torna parco para satisfazer a necessidade de gasolina).


Ah, mas isso, somos nós, com as nossas máquinas desportivas de sonho (sonhos pequeninos e limitados, é certo, mas de sonho!).


Ora, esses sacanas desses árabes, com as suas máquinas e auto-estradas fechadas de propósito, e dunas infindáveis podem divertir-se à vontade. Afinal de contas, nós, com recursos bastante mais limitados, também o sabemos fazer.


Podemos não ter troços de auto-estradas fechados, mas temos auto-estradas, e sabemos usá-las.


Afinal de contas, o Tuga é um perito do volante, um autêntico Schumacher, mas na versão do desenrasca.


É assim que nós gostamos e, na verdade, assim é que dá mais pica.


Ora, se nós quiséssemos andar a correr em condições mínimas de segurança, ora, tínhamos ido para uma pista, mas, qual é a piada? Os obstáculos não se movem…


Não, nós gostamos é da estrada, e é ela que nos dá pica. Fazer ultrapassagens em cima do risco, com um camião a vir de frente e, eventualmente, uma velhota num “mata-velhos” a sair para cima de nós.


Isso sim, dá pica. Acelerar no nosso Clio 1.2, ultrapassar a velha quando ela se começa a chegar à esquerda, com o risco contínuo a servir de fio condutor, e os faróis do camião que vem de frente a darem-nos nos olhos. Isso, sim! Isso é pica! Isso é pilotagem! E é nisso que nós somos bons.


É por isso que nós tanto gostamos de chuva! Afinal de contas, a chuva torna a estrada mais escorregadia, ideal para fazer a “limpeza étnica” dos maus condutores!


Por isso, assim que começa a chover, e o solo começa a ficar um bocadinho escorregadio, o bom condutor tuga esboça um sorriso, os seus olhos brilham, e o Hulk que há dentro de todos nós fica verde!


É hora do Tuga se fazer à estrada, exactamente como se estivesse piso seco, ou, melhor, mais depressa e bem do que se o piso estivesse seco.


Afinal de contas, é aí que se mostram os verdadeiros condutores, no meio do trânsito, sempre a acelerar, no zigue-zague, nos 170, na maior.


É assim que o Tuga consegue a sua adrenalina.


Alguns, mais do que adrenalina, também conseguiram umas cerimónias fúnebres muito bonitas e cheias de flores, mas lá que foram com a pica todo, foram (quer dizer, de vez em quando, há partes que ficam entranhadas nos pára-choques, mas quem liga a isso?).

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