domingo, 14 de novembro de 2010

Saudade!

Diz a sabedoria popular, e por “sabedoria popular” entenda-se o “grupo de pessoas que gosta de mandar umas larachas, mas, como não estão bem dentro da coisa, a opinião deles tende a parecer extremamente estúpida, ignóbil e sem qualquer tipo de senso” que “as separações fazem bem às relações”!!!

Ao que parece, e segundo esses “sábios de café”, faz muito bem a um casal separar-se por uns tempos, de forma a fortalecer a relação.

Ao que parece, o período em que o casal não se encontra junto funciona como uma espécie de férias que um tem do outro e, assim, quando se voltaram a juntar, encontrar-se-ão revigorados e, portanto, a relação sairá fortalecida.

Ora bem, em relação a este tema, sobre o qual poderia dizer muito e, ao fim e ao cabo, acabaria por estar a dizer nada, só me apetece mesmo dizer algo do género “WTF are you talking about?”

Ora, se, por um lado, a ideia de ficarmos sozinhos por um certo período de tempo, sabendo que, após esse período, o casal estará junto de novo, pode aparentemente trazer uma expectativa de “férias”, na verdade, isso é a treta mais pegada que alguém já foi inventar.

Afinal de contas, não nos podemos esquecer que o ser humano, pelo menos o normal, é uma criatura de hábitos, de tradições e de rituais que gosta de seguir relativamente à risca.

Assim, expliquem-me lá porque raio é que a separação funciona como uma coisa boa.

Agora, mais do que nunca, não deixo de me lembrar dos meus avós, e quem diz os “meus avós” diz “os avós de toda a gente”.

Os meus avós viveram juntos durante, vá, a sua vida adulta toda. Com excepção das horas, e dos locais de trabalho (e mesmo assim, nem sempre), andavam sempre juntos.

Iam os dois para a vila, às compras. Iam os dois à missa, iam os dois a casa dos meus pais, assim como iam os dois passear.

Quem os conheceu, até pode dizer que, nos seus últimos anos, até estavam bastante insuportáveis um com o outro. Discutiam as suas coisas, diziam os seus insultos e faziam as suas gritarias. Contudo, continuavam juntos, e lá iam a todo o lado um com o outro, e ai daquele que quisesse ir a algum lado sem levar o outro.

Contudo, e porque na vida, tudo acaba por ter um fim, o meu avô acabou por ficar sozinho!

Nesta situação, se calhar, viria a “sabedoria popular” dizer que, “vá, eles até discutiam e tal. É melhor assim que, pelo menos, tem sossego”!

Bem, o avô ainda não conseguiu ter sossego, e isso nota-se perfeitamente.

Afinal de contas, a sua menina foi-se e já não volta, e não podemos dizer que esta “separação forçada” lhe tenha trazido descanso, ou sequer, a possibilidade de fazer outras coisas.

Claro que, nesta situação, pode vir a “sabedoria popular” dizer que “ah e tal, mas isso é uma separação permanente e não conta. Uma separação quando não é permanente faz muito bem”.

Pois bem, não faz!

Até se pode admitir que, a vida a dois é composta, também, por concessões que se vão fazendo a favor da relação. Numa relação, o homem concede em deixar o tampo da sanita em baixo, e, se ainda consome, aprende a deixar as Playboy’s e as Penthouse’s em sítio que não necessariamente a mesinha da sala.

A mulher, por sua vez, também concede que, se calhar, a televisão deixa de lhe pertencer, e bem, se calhar, vai deixar de ter tempo para poder arranjar e pintar as unhas.

Se calhar, são essas as particularidades da relação em que as pessoas, de vez em quando, gostariam de passar um dia sozinhas.

Contudo, mesmo assim, não tem a “sabedoria popular” razão alguma no que diz.

Afinal de contas, tudo bem que pode saber bem que, durante um dia, o homem possa deixar as revistas espalhadas pela sala, e, seguramente, que lhe saberá bem usar o WC e deixar o tampo para cima. Afinal de contas, ele há-de lá voltar.

Mas, será que isso faz bem à relação? Não! Afinal de contas, essas coisas podem saber bem durante um dia. Durante um dia, homem e mulher são os soberanos absolutos das suas vidas, e fazem o que querem.

Bem, mas, e depois desse dia. Será que é assim? Bem, será que continua a ter a sua piada na hora de dormir, e ter os pés frios. Então e ver uma coisa com piada na TV e ninguém estar lá para se rir com ele.

E ir ao cinema, e comprar apenas um bilhete para um? E as saudades? E o facto de não aguentar estar sem a cara-metade, mas ter de se aguentar à bronca?

É isto que faz bem, ou é só a “sabedoria” de quem, na verdade, não tem qualquer tipo de experiência na matéria?

É mais o que parece. Afinal de contas, o Homem, mais do que ser um animal social, é, e perdoem-me a ousadia, um animal monogâmico, e foi criado no sentido de existir aos pares.

Assim, o Homem que foi criado para viver aos pares, quando na ausência da sua cara-metade, acaba por não lhe fazer a experiência bem. Sente a falta da sua parceira, sente o peso de ser um à espera de voltar a ser dois, sente que essa liberdade que lhe podem ter apregoada mais não passa que gentis palavras de alguém que apenas não o quer ouvir queixar-se.

O Homem é um para ser dois, e é assim que é feliz. É assim que se define, e é assim que vive.

Daí que se tenha inventado a palavra “Saudade”!

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