domingo, 7 de novembro de 2010

Experiências

Há certas e determinadas experiências sociológicas que nunca devemos deixar de experimentar.

Não que alguma vez possamos entender certos contextos. Afinal de contas, não precisamos de conhecer/saber tudo, mas devemos, pelo menos, tentar perceber, nem que seja apenas para criticar.

Afinal de contas, nós podemos nem sequer compreender como é que um monte de cadeiras velhas presas umas às outras por cordas podem significar algo como “ a ordem no universo”, ou uma caixa de cartão amarrotada pode transmitir o vazio arquitectónico presente nas salas de jantar pós-modernas em Brasília, mas, se não vemos, não podemos criticar.

Às vezes, estas experiências, para além de serem uma óptima desculpa para usar óculos de massa e camisolas de gola alta pretas, podem, e devem, ser o inicio de uma experiência sociológica muito mais vasta.

Afinal de contas, toda a gente sabe que olhar para uma caixa de sapatos que, por ser uma caixa de sapatos, vale uma pipa de massa, abre sempre o apetite para mais. Tipo, para jantar.

Assim, usa-se essa experiência para procurar um restaurante, uma casa de repasto, uma taberna, um sítio onde se possa encher o bucho.

Ah, sim, encher o bucho. Isso, sim, pode tornar-se uma experiência que podemos nunca vir a esquecer.

O truque é simples: basta escolher um sítio com aspecto de ser um restaurante típico, daqueles que guardam nas suas paredes, as mazelas e os sinais dos milhares que lá passaram ao longo das várias décadas de funcionamento.

Se o dono do restaurante for um simpático senhor bem vermelhinho, e com um leve hálito de aguardardente, tanto melhor. É sinal que vão ter histórias durante a noite toda, e, sobretudo, vão ter uma pequena aventura para contar aos amigos, filhos e netos ao longo dos anos. Ou, então, vamos manter isto só para nós!

Ora, de forma a melhorar a experiência, não há nada que anunciar ao senhor bem bebido a nossa profissão. Se for algo que poucos gostam, tanto melhor (em regra, dizer que se é advogado does the trick), pois havemos de ter mais umas histórias, aventuras, relatos de prisões por roubar bananas que nos irão entreter ao longo da noite.

Com um bocadinho de sorte, ainda se é convidado para sair da mesa e se sentar ao sofá com ele, enquanto nos diz que é casado há 65 anos e, já agora, “vocês fazem sexo?”.

Com este tratamento, certamente ainda se ganha uma rosa, ou duas, ao final do jantar.

Depois, é hora de ir beber um copo e ouvir boa música!
Não se deve criticar o que não se conhece, mas deve conhecer-se o máximo para que sejam abertas outras portas.




Sem comentários: